Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"you're so hipnotising
could you be the devil, could you be an angel?"
As estrelas brilhavam pequenas e seguras, até um aglomerado de luzinhas andar às voltas e descer pelo ar, como se descesse por uma corda, lenta e cuidadosamente. Pó levantou-se, árvores balançaram, animais guincharam sobressaltados; a Natureza perdeu o equilíbrio durante instantes.
Miriam inclinou a cabeça e andou até à origem da nuvem de pó, quase por cima da sua cabeça.
Estava cada vez mais perto. Ouviu alguém tossir e escondeu-se o mais que conseguiu. Cerrou os olhos como tentativa de focar a imagem.
— Porque é que parámos aqui? Não sei se reparaste, mas estamos demasiado perto da cidade! – gritou uma voz masculina com um sotaque muito carregado, de onde quer que fosse.
Miriam gemeu para si e escondeu-se mais, ficando só com os olhos a brilhar. Estremeceu, vendo um vulto alto e magro, que se mantinha com uma postura diferente do habitual.
— Pára de refilar e ajuda-me. – reclamou um rapaz mais alto que o outro, com os ombros mais largos e o tronco mais preenchido. – Ficámos sem combustível…
— E agora?! Oh meu Deus, estamos condenados! – via-se a expressão aterrorizada nas suas palavras.
– Tem calma, isto resolve-se. – tentou apaziguá-lo.
De repente, as luzes que caíram do céu apagaram-se e Miriam não conseguiu travar um grito de filme de terror.
— Oh, não acredito… agora também ficámos sem bateria. - bufou e começou a subir as escadas para entrar na sala de energia.
— Espera! Não ouviste nada? – começou a andar em direcção à fonte sonora.
Parou, pois o mais alto travara-o com um braço à frente do seu corpo.
— Eu vou. Ainda gritas que nem um maluco por causa de um rato. – riu-se e avançou.
— Hei! – lançou, ofendido.
A respiração de Miriam estava acelerada e com um volume significativo.
— Chiu! – fez o rapaz que se aproximava ao outro.
Afastou uns arbustos, olhou em redor e cheirou o perfume de Miriam. Virou-se e lá estava ela: imóvel, ofegante e temerosa. Ela mexeu apenas os olhos, que fitaram os dele. Eram luminosos como duas lanternas de um verde fluorescente. Era como se o seu verde a hipnotizasse, tomasse controlo de si, daí Miriam permanecer imóvel. Continuou a olhá-lo como se se tratasse de uma ilusão, um sonho.